Quarta feira. Já são quase cinco e meia da tarde. Ele vê o ônibus que deve tomar para chegar à faculdade e faz o sinal de parada. Imediatamente, atendendo ao chamado, o motorista pára e ele sobe, pega o dinheiro no bolso, paga e passa pela roleta (com alguma dificuldade, culpa dos tantos livros cobrados pelos professores). As janelas estão abertas e faz um pouco de frio. Ele procura um lugar vago para sentar-se. Só há um, bem atrás daquela proteção de vidro que alguns ônibus tem, não sei bem o por quê. Já havia alguém sentado lá. Ele olha, dá um breve sorriso como quem diz "Oi, se não se incomoda, vou me sentar ao seu lado.". O sorriso é prontamente retribuído e ele se senta. Seus ombros se encostam durante todo o trajeto. Eventualmente, os braços. Ele a olha fingindo querer ver a paisagem. Ela foge do seu olhar, finge não perceber. Quando ela toma a atitude, ele vira a cabeça, lê o jornal do sujeito estranho calçando botas vermelhas que está sentado no banco ao lado. Durante um segundo, porém, seus olhares se cruzam pelo vidro e logo se desviam. Ele está apaixonado. Uma paixão que, ele bem sabia, duraria alguns minutos e em nada resultaria, mas era uma paixão boa. Paixão de ônibus. Só havia coragem de olhar pelo vidro. Os olhos não se desgrudavam, como se o outro não estivesse de fato ali ao lado. Como se fossem meras imagens. Como se os ombros não se tocassem. Eventualmente, os braços. Olhavam-se pelo vidro. Nessas alturas já era noite. Não aconteceu, mas era clara a vontade de se tocarem as mãos. Os olhos, contudo, não se desviam um instante. O ponto dele chegava. Pela primeira vez eles param de se olhar. Ele levanta, puxa a cordinha quase no teto e, imediatamente, a sirene toca alertando o motorista de que deve parar. Ele tenta olhar para ela, desta vez não pelo vidro, mas ela se vira para a janela. O ônibus pára. Ele agradece ao motorista, desce as escadas e vai seguir para seu destino. Acabou a paixão.
domingo, 5 de junho de 2011
Trinta e seis minutos
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